ENTREVISTA RICARDA LIMA

Por Cleverson Guedes

Brasília sempre revelou grandes atletas ao voleibol brasileiro e uma destas é Ricarda Lima, que ainda jovem deixou a família e foi em busca de construir uma carreira vitoriosa. Em Blumenau, deu seus primeiros passos como profissional. Chegou as seleções de base onde foi campeã mundial juvenil em 1989 e com a chegada do Plano Collor, teve que passar algumas temporadas no Rio de Janeiro, porém o melhor estava por chegar: sua ida para Sorocaba ao Projeto Leite Moça. Lá foi a melhor fase da sua carreira, onde a mesma pode ser campeã mundial de clubes, tri-campeã brasileira e chegou a seleção brasileira em duas oportunidades: em 1995 e depois em 1999/2000, onde já como líbero, conseguiu a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Sidney.
Dona de um passe primordial, precisou se reinventar na carreira. As diversas lesões no ombro a fizeram deixar de ser atacante e graças a nova posição (de líbero) pode estender sua carreira por mais alguns anos. Hoje, novamente em Brasília e trabalhando como assessora da senadora Leila do Vôlei, Ricarda concedeu ao Volei Raiz uma extensa entrevista onde conta com muitos detalhes de como foi sua vitoriosa carreira. Vamos voltar ao passado com Ricarda?
Agradecimento as ex atletas e companheiras de equipe de Ricarda: Simone Leal, Kika Bado e Rosângela Tridapalli, por ceder algumas fotos de seus arquivos pessoais.

CARREIRA:
1985: Colégio Santa Rosa
1986: Colégio Novo Alvorada (AABB/DF)
1987-1990: A.D. Hering/Blumenau (SC)
1990/1991: Armazém das Fábricas (RJ)
1991/1992: C.R. Botafogo (RJ)
1992/1993: A.A. Rio Forte (RJ)
1993-1999: Leite Moca/Leites Nestlé/Sorocaba/Jundiaí (SP)
1996: Sollo/Tietê (SP)
1999-2002: ADC BCN/Osasco (SP)
2002-2003: gravidez/Osasco
2003-2004: Brasil Telecom/Força Olímpica/Brasília (DF)
2004-2005: Rexona/Ades (RJ)

PREMIAÇÕES
CLUBES:
– Melhor recepção Superliga 1998/1999 (Leites Nestlé/Jundiaí)
– Melhor líbero Superliga 2000/2001 (BCN/Osasco)

SELEÇÕES:
– Melhor ponteira do Brasileiro de Seleções Infanto-Juvenil pelo DF – 1986 (Colatina/ES)
– Melhor líbero do Grand Prix 1999
– Melhor defensora dos Jogos Olímpicos de Sidney 2000

TÍTULOS:
CLUBES:
– Bicampeã catarinense juvenil – Hering/Blumenau (SC) (1987, 1988)
– Tricampeã catarinense adulta – Hering/Blumenau (SC) (1987, 1988, 1989)
– Tricampeã dos Jogos Abertos do Interior de Santa Catarina – Hering/Blumenau (SC) (1987, 1988, 1989)
– Vice-campeã da Copa Brasil – Armazém das Fábricas (RJ) (1990)
– Campeã da Copa Brasil – ADC BCN/Osasco (1999)
– Vice-campeã carioca – C.R. Botafogo (RJ) (1991)
– Tetracampeã paulista – Leite Moca/Leites Nestlé/Sorocaba/Jundiaí (SP) (1993/1995/1998); ADC BCN/Osasco (SP) (2001)
– Vice-campeã paulista – Leite Moca/Leites Nestlé/Sorocaba/Jundiaí (SP) (1994,1997); ADC BCN/Osasco (SP) (1999)
– Campeã da Copa SP – ADC BCN/Osasco (1999)
– Tetracampeã dos Jogos Regionais – Leite Moça/Sorocaba (SP) (1993,1994,1995); ADC/BCN Osasco (2000)
– Tricampeã dos Jogos Abertos do Interior de São Paulo – Leite Moça/Sorocaba (SP) 1993; ADC BCN/Osasco (SP) (1999, 2000)
– Vice-campeã dos Jogos Abertos do Interior de São Paulo – Leites Nestlé/Sorocaba (SP) (1996)
– Campeã da Taça Premium TV Tarobá – ADC/BCN/Osasco (SP) (2000)
– Tricampeã da Copa Sul – Leites Nestlé/Sorocaba/Jundiaí (SP) (1996, 1997 e 1998)
– Tricampeã da Superliga Feminina de voleibol (1994/1995, 1995/1996, 1996/1997) – Leite Moça/Leites Nestlé/Sorocaba (SP)
– Vice-campeã da Superliga Feminina de voleibol – Leites Nestlé/Jundiaí (SP) (1997/1998); ADC BCN/Osasco (SP) (2000/2001); Rexona/Ades/RJ (2004/2005)
– Campeã carioca – Rexona/Ades (RJ) (2004)
– Tricampeã sul-americana de clubes – Sollo/Tietê (1996), Leites Nestlé/Sorocaba/Jundiaí (SP) (1997, 1998)
– Vice-campeã sul-americana de clubes – ADC/BCN/Osasco (SP) (2000)
– Bicampeã da Salonpas Cup – ADC BCN/Osasco (SP) (2001); Rexona/Ades/RJ (SP) – 2004
– Campeã da Copa Internacional – Leite Moça/Sorocaba (SP) (1995)
– Campeã mundial de clubes – Leite Moça/Sorocaba (SP) (1994)

SELEÇÕES:
– Vice-campeã sul-americana juvenil – 1998 (Caracas/Venezuela)
– Campeã mundial juvenil – 1989 (Lima/Peru)
– Vice-campeã pan-americana – 1991 (Havana/Cuba)
– Campeã da BCV Cup – 1995 (Montreux/Suíça)
– Vice-campeã do Grand Prix – 1995 (Shangai/China), 1999 (Yuxi/China)
– Tricampeã sul-americana 1995 (Porto Alegre/RS); 2001 (Buenos Aires/Argentina)
– Medalha de bronze na Copa do Mundo – 1999 (Japão)
– Medalha de bronze no Grand Prix – 2000 (Quezon/Filipinas)
– Medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Sidney – 2000
– Campeã do Classificatório Sul-Americano para o Mundial 2021 (Santa Fé/Argentina)

Por que você escolheu o voleibol como esporte?
Na verdade sempre pratiquei vários esportes na escola. Eu e minhas irmãs estudávamos em Taguatinga, cidade satélite do Distrito Federal e praticávamos basquetebol, handebol, atletismo e representávamos a escola nessas modalidades. O Renzo, que era técnico de vôlei, viu que eu era alta e me convidou a jogar pela escola para duas edições das Olimpíadas Maristas (uma foi em São Luís e outra em Belém do Pará). Através destas minhas aparições, um amigo da minha mãe, o Luiz, que trabalhava no SESI de Taguatinga, conhecia o Paulo Pernambuco, que era o técnico no Santa Rosa, um colégio de Brasília e falou de mim a ele: que havia uma “magrelona alta” em Taguatinga. Desta forma, ele me chamou pra jogar no time, me deu bolsa no Santa Rosa e fui. Só a partir daí que realmente o meu foco se tornou o vôlei.

Qual foi a primeira equipe que atuou? O que se recorda dos seus primeiros passos naquela época?
Como eu te falei, anteriormente eu tinha bolsa numa escola particular aqui em Brasília, no Santa Rosa, depois no Novo Alvorada, já era pela AABB de Brasília, era um time juvenil e depois, a Hering foi meu primeiro time adulto. Só tenho boas lembranças deste início, principalmente na escola no Santa Rosa. Lá treinávamos no pátio, não tinha ginásio e eu lembro do Paulo, que era sempre muito exigente. O piso da quadra não era cimento, mas não era também piso preparado para você cair no chão e mesmo assim nós treinávamos peixinho. Já na AABB, era fantástico, pois quando eu cheguei, já tinha uma equipe muito boa naquele ano e tive o privilégio de ter o Paulo como técnico, que era muito cuidadoso e rigoroso com os fundamentos. Ter começado já com esse grupo me possibilitou crescer muito no pouco tempo que eu fiquei ali, e apenas dois anos depois, eu já fui convidada para ir para a Hering. E um detalhe: tanto a escola quanto o clube eram distantes e então eu tinha que acordar muito cedo para pegar o ônibus e ir para a escola, e para eu retornar para Taguatinga ficava muito caro e então eu ia para a casa da Estela, almoçava lá, dava um tempinho para ir para o treino juntas e era maravilhoso, pois a família dela me recebia muito bem. Para voltar para casa, eu descia na rodoviária de Brasília e pegava ônibus até Taguatinga e chegava em casa mais de 22:00. Então, eu saia em torno de 5:30 para estudar, depois treinar e voltava umas 22:30. Sinto saudade das pessoas, principalmente do Paulo, que já não está mais conosco, pois ele se dedicava muito para que todas nós pudéssemos crescer e pudéssemos evoluir.

No seu início de carreira, o DF estava formando uma grande geração de atletas. Você poderia falar um pouco sobre estas atletas e como era o voleibol do estado neste período?
Sim, Brasília sempre teve grandes atletas em várias gerações. Quando eu comecei a jogar, a Tina, a Cilene e outras meninas já tinham saído de Brasília e elas eram realmente uma referência para nós. Eu não tive a oportunidade de vê-las jogando aqui, porque eu morava em Taguatinga e era longe e não acompanhava muito o vôlei, assistia só pela televisão a Supergasbrás e a seleção, que tinha Isabel, Vera Moça, Jaqueline e eu era muito fã delas. Quem seguiu jogando desta geração que eu joguei, pode ser que eu esteja errada, foi só eu e a Estela mesmo; que saímos juntas no mesmo período, mas no ano seguinte que eu saí, 1987, também saiu a Leila que foi para o Minas. Passados alguns anos, tivemos algumas mais novas, como a Paula Pequeno e a Fabíola e, mais recentemente, a Tandara.
No masculino tiveram vários atletas também que saíram de Brasília. Então eu acho que aqui tem um potencial muito grande e também tem excelentes profissionais.

Em 1986 você foi considerada melhor atacante de ponta do Brasileiro de seleções Infanto-Juvenil. Conte-nos um pouco como foi este campeonato e sua atuação.
Em 1985 eu fui para o Campeonato Brasileiro Infanto de Seleções (no Guarujá, se eu não me engano) e eu era banco do banco. Nossa, era muito ruim! Eu tinha acabado de entrar na equipe e acho que o técnico me levou para pegar mais experiência e no ano seguinte eu já estava de titular na equipe e inclusive o Brasileiro Juvenil de Seleções seria antes do Infanto e eu estava de titular na equipe juvenil do DF, mas na véspera da viagem (dois dias antes) torci o pé, e até viajei para o torneio que foi lá no Mineirinho, mas eu não joguei e foi uma pena, pois iria ter convocação para a seleção e eu estava super bem, atuando de ponta. Porém, eu me recuperei e fui para o Infanto-Juvenil, que foi no segundo semestre em Colatina/ES e fui considerada melhor atacante de ponta da categoria. No último jogo deste campeonato, eu torci o pé de novo, mas fiz um bom campeonato, pena que não tinha convocação para a seleção infanto-juvenil naquele ano e foi desse campeonato que eu recebi o convite para ir para a Hering.

Em 1987 você se transferiu para a Hering, em Blumenau que estava iniciando um projeto. Por que uma equipe longe dos grandes centros na época (Rio-São Paulo)? Você chegou a receber propostas de outros times?
Não. Em 1987 o convite que eu tive foi da Hering com o Ricardo que era o técnico da seleção catarinense infanto-juvenil e que me viu eu jogar lá em Colatina no Brasileiro Infanto-Juvenil de seleções e o técnico da Hering era o João Crisóstomo e posso dizer que foi fantástico! O João foi fundamental para eu ter um crescimento no meu voleibol. Eu joguei os Campeonatos Brasileiros de Seleções por Santa Catarina, Jogos Abertos de Santa Catarina, o torneio estadual além do Brasileiro de Clubes. Eu até fui convidada para ir para a Lufkin, em 1988, mas o João me aconselhou a não ir, porque eu ia ser banco e eu precisava jogar e ele estava certo, pois não adianta você ir para um grande clube e não atuar. Além disto, a Hering tinha uma excelente estrutura, nos dando moradia, uma pessoa para nos ajudar nos afazeres domésticos, tinha a Cooperativa da Hering e nos pagavam certinho. Era uma grande empresa, um grande patrocínio e foi uma pena que em 1989 ter acabado. Foi uma grande fase em minha carreira, pois em 1988 teve convocação para a seleção juvenil e eu tive a oportunidade de ir para o Sul-Americano na Venezuela e em 1989 fomos campeãs mundiais juvenis no Peru.

Qual foi a reação dos seus pais ao saber que você iria embora de casa tão jovem para um local distante?
Bom, no primeiro momento meu pai não tinha deixado eu ir e foi bem difícil convencê-lo. Ele só deixou mesmo, porque a Estela foi junto já que ela também recebeu o convite e quando eu fui, minha mãe foi para ver onde iríamos ficar. Não foi fácil, ele não queria deixar eu ir não, mas lá era uma cidade maravilhosa e tinha uma equipe com uma empresa muito séria e cuidaram muito da gente.

Você teve dificuldades para se adaptar em Blumenau, que era uma cidade interiorana que estava em desenvolvimento na época?
Foi uma diferença muito grande em relação a Brasília na época, mas era uma cidade muito aconchegante! Uma cidade maravilhosa e eu amei morar em Blumenau, de verdade. Lá treinávamos muito! As meninas e as pessoas me receberam muito bem. Eu gostei demais da comida de lá e a cidade era linda e na época já tinha a Oktoberfest e muitos turistas. Foi um privilégio!

Ricarda se divertindo na Oktoberfest com sua colega de equipe Simone Leal

Na Hering você atuava nas equipes de base e no adulto, fato comum com muitas atletas na época.  Era estressante?
Eu acredito que até hoje as juvenis compõem a equipe adulta ou muitas vezes já são titulares. Naquela época, na equipe da Hering haviam poucas atletas adultas, eu acho que talvez pelo investimento que não era muito alto.

Que diferenças você pode observar entre a estrutura do seu ex clube em Brasília e lá em Blumenau, na Hering?
Diferença eu senti mais em relação aos jogos, pois Brasília não tinha Jogos Abertos e Campeonato Estadual; tinha somente um campeonato da cidade. Então, a diferença foi essa. Em relação a equipe, a AABB tinha uma estrutura muito boa (ginásio, vestiários, transporte, a coxinha com refrigerante (risos)), mas o time da Hering jogava o Campeonato Brasileiro adulto e eu tenha uma lembrança de que nós fizemos um jogo com a Supergasbrás no Sul e eu pude ver as meninas da Supergasbrás que eu era fã.

Nestes três anos de passagem pela Hering, quais são as melhores recordações que você tem?
Ah, boas lembranças. Eu gostava de treinar no SESI, que tinha uma estrutura incrível e realmente foi um privilégio treinar ali.  A equipe não tinha briga e eu lembro que trabalhávamos muito; havia muito esforço e dedicação. Na equipe tinha a Andréa Moraes, Simone Leal, a Estelinha, a Sandra, Fabiana, a Eliane (que a gente chamava Frida), Márcia, Mônica Beckenkamp, Rosângela (a Rô) e a Vãnia Mello, que o João Crisóstomo trouxe depois. Ela era muito craque e eu me recordo que o João me puxava de lado e falava para mim: “Ricarda, olha a Vânia defendendo, olha ela passando, observa como ela lê o jogo” e desta forma a Vãnia foi um espelho para mim. Morávamos eu, a Rô e a Estelinha e tinha a Marli que cuidava dos afazeres e fazia a comida. Foi uma pena a Hering ter tirado patrocínio e acho que hoje poderia voltar a montar uma equipe forte, pois é uma cidade que gosta tanto de esporte. Eu amo essas meninas e sinto saudades!
N.E.: Nas três temporadas que esteve na Hering Ricarda atuou ao lado das seguintes atletas: Maria Estela Júnior, Márcia Radke, Mônica Beckencamp Skoulade, Rosângela Piazzon de Oliveira, Izolde Neitzhe, Eliane Woelfer, Elisa Winkel dos Santos, Edmara Dias Eduardo, Mariana Martins Alves Costa, Regina Iara Porciuncula Michelena, Rúbia, Silvana Rozendo Nascimento, Rosana Aparecida de Souza, Vânia Mendonça Mello, Raquel Ruth Rodrigues, Maria Fabiana de Melo Lopes, Simone Leal, Andréa Leopoldina Aparecida de Moraes, Jacqueline Torelli de Moraes Diogo, Vivian Denise Schwarzrock, Diane Salete Paludo, Márcia Soraya Stein da Silva, Heloísa Hoffman de Oliveira, Márcia Regina Begiato, Giselle Silva Barbosa, Letícia Kepler, Edla Sibele Thies, Daniela Kuse, Mirela Silva Locks e Gislene Valêncio.

Jogos Abertos de 1987 de SC em Criciúma
Seleção Catarinense juvenil

Você acha que o fato de você ter 1.85m, foi um fato determinante para você se destacar na época?
Sim, com certeza, magra alta e treinando ali muitos fundamentos como o passe.  Já em Brasília isso foi o diferencial e depois o privilégio de ter tido bons treinadores, que mesmo sendo alta, magrelona e desengonçada, me ensinaram todos os fundamentos.

Sua primeira seleção foi para o Campeonato Sul Americano Juvenil em 1988 na Venezuela. Como foi receber sua primeira convocação para uma seleção?
Nossa, eu me dedicava muito, queria muito e era um sonho que eu tinha. Então foi maravilhoso receber esta convocação. Foi muito bom mesmo. Foi um campeonato que foi o masculino e o feminino juntos. Estava o Tande, Geovane e no feminino lembro da Mariana Loirinha (Cenni), a Kika, Ana Paula Popó e o Mirim (Claudinei). Eles se conheceram bem nesta época. Lembro também da Fatão, Filó. O Betão foi de técnico, ele esteve um período aqui em Brasília, se eu não me engano e nossa foi muito massa! Eu era e sempre fui um pouquinho “bicho do mato” (risos).
N.E: Ricarda jogou este Sul-Americano Juvenil em Caracas ao lado das seguintes atletas: Fátima Aparecida Cássia dos Santos, Sabrina Bado (Kika), Ericléia Bodziak (Filó), Virna Cristine Dantas Dias, Denise de Paula Nicolini, Ana Paula Lessa Lima (Popó), Mariana Frauendorf Cenni, Ingrid de Oliveira Gomes, Andrea Leopoldino de Moraes, Patricia Lenz e Andréia Luciana Marras.

Você se recorda da preparação para este Sul Americano?
Se eu não me engano foi lá no CIEF e nós treinávamos muito, na disputa de uma vaga, mas foi muito bom!

O fato de ter a seleção masculina junto com a feminina chegou a ter problemas?
Quanto ao Sul Americano eu confesso que foi minha primeira seleção e estava muito concentrada e a comissão técnica também, sempre orientando e foi um grupo ótimo e eu não vi nada que não fosse o foco nos jogos. Só tenho boas lembranças. Foi minha primeira seleção, primeira camiseta. Foi demais! Eu voltei para Brasília e levei minha primeira camiseta e mostrei para o Paulo Pernambuco, levei para o Renzo no Colégio Marista, onde comecei e fui agradecer a eles, porque senão fosse eles não estaria ali.

O que você se recorda daquela final? Você acha que o fato de o Brasil estar sem algumas juvenis que estavam com a seleção se preparando para os Jogos Olímpicos de Seul prejudicaram a equipe alcançar o título?
O Peru tinha uma tradição muito grande e não tem como negar que as atletas que estavam na seleção adulta fizeram falta para a equipe, pois se tem atletas juvenis que são cedidas para a adulta, elas farão falta na equipe de sua idade. Foi um jogo puxado e pode ter faltado um pouco de entrosamento e confiança, mas não me lembro muito desta partida. Lembro de um time com muita garra, ter feito e dado o seu melhor o todo tempo e o ginásio lotado! Como é bom jogar com o ginásio cheio!!!
N.E.: Desfalcaram a equipe brasileira neste torneio as atletas Fernanda Porto Venturini, Kerly Cristiane Paiva dos Santos, Márcia Regina Cunha (Fu) e Simone Storm, que estavam com a seleção adulta disputando os Jogos Olímpicos de Seul.

Depois do torneio as duas seleções foram para Cuba jogar amistosos. Você se recorda desta excursão?
Lembro sim e foi muito legal. Foi uma experiência fantástica! Lembro de um bolo com sorvete muito bom que eles nos ofereceram. Para a época ter essa experiência e fazer amistosos foi um privilégio.

Como foi a preparação da equipe para o Campeonato Mundial? Você chegou a ficar com medo de ser cortada?
Olha Cleverson, eu nem lembro quantas estavam na seleção disputando para fechar o grupo de doze. Eu treinava e sempre pensei: “Eu vou treinar muito, muito mesmo para não ser cortada”. Me dedicava ao máximo e eu não ficava pensando: “será que vou ser cortada?” Eu sempre procurei fazer minha parte e não entrar em polêmica.

Você se recorda de momentos extra-quadra lá no Peru durante o torneio?
No mundial também não lembro, lembro do Wadson me chamando na final, mas eu não joguei. Me recordo do jogo contra Cuba e das equipes orientais que sempre proporcionavam bons jogos.

Das vitórias no torneio, qual você considera que foi a mais marcante?
A final contra Cuba.
N.E.: Ricarda foi campeã mundial juvenil atuando ao lado das seguintes atletas: Ana Paula Lessa Lima (Popó), Kerly Cristiane Paiva dos Santos, Ana Flávia Chritaro Daniel; Fátima Aparecida Cássia dos Santos, Ericléia Bodziak (Filó), Virna Cristine Dantas Dias, Hilma Aparecida Caldeira, Márcia Regina Cunha (Fu), Fernanda Porto Venturini, Simone Storm e Andréia Luciana Marras.

Fim da temporada 1989/1990, o Projeto da Hering extingiu. Foi devido o Plano Collor? Como as atletas reagiram ao saber do fim da equipe?
O motivo da retirada do patrocínio eu não lembro de terem passado para as atletas, mas acredito que deva ter sido estratégia de marketing, onde a empresa resolve investir em outro segmento. Na época, não chegamos a ter acesso aos motivos, mas foi uma pena.

Por que você optou em ir para a equipe do Armazém das Fábricas naquela temporada, sabendo que o projeto duraria apenas uma temporada?
Olha, pelo que eu me lembro aquele ano foi um ano bem difícil. Não tinha muitos times e na verdade, depois que a Hering se extinguiu, eu me lembro de ter ficado um período ainda me mantendo em Blumenau. Eu fui para o Armazém através do Ajuz, o técnico, e a Rosângela foi também. Não tinha muitas opções e foi um bom ano. Se eu não me engano, o preparador físico era o Luiz Fernando, que era o mesmo da seleção.
N.E: Fizeram parte do elenco do Armazém das Fábricas com Ricarda na temporada 1990/1991 as atletas: Maria Fernanda Mascigrande, Renata de Souza Paiva, Sandra Maria Lima Suruagy, Jaqueline Torelli de Moraes Diogo, Dirce Aparecida Ferraresso Lara, Bernardete Castellani Gonçalves, Rosângela Piazzon de Oliveira, Lúcia Eliza Mangueira de Lacerda, Denise Ferreora de Souza, Rejane Fritz, Eliana Ferreira dos Santos (Bobô), Alessandra S.G.C. Almeida, Adriana Ramos Samuel e Janina Déia Chagas da Conceição.

Neste período surgiu o movimento das Descamisadas. Você chegou a fazer parte?
Não, eu não estava muito envolvida. Eu não lembro de me envolver com as atletas. Acho que eram as mais velhas que estavam encabeçando isso.

Como foi jogar no Rio de Janeiro pela primeira vez? Vocês eram a única equipe carioca na época e inclusive nem houve Campeonato Carioca, que era muito tradicional na época. Isto frustou vocês?
Nossa! Minha primeira vez no Rio e era muito jovem. A cidade era linda e lembro que nós morávamos lá na Usina em uma casa e íamos treinar no Tijuca, eu não lembro se as vezes a gente ia para a Urca; tinha um lugarzinho que a gente treinava, que agora não lembro o nome. Eu lembro que não foi um ano fácil e com certeza se você tem oportunidade de jogar melhor, jogar mais isto contribui para sua performance melhorar e se desenvolver. O Ajuz foi ótimo e acho que o Claudinho era o auxiliar técnico e nós treinávamos passe com os cotonetes e aquilo lá também foi muito bom. Foi um privilégio ter essa oportunidade de trabalhar com estes excelentes técnicos.

O Inaldo Manta assumiu a seleção brasileira em 1989, quando você estava concentrada com a seleção brasileira. Ele chegou a conversar com você ou te convocar em 1990?
Não e não fiquei chateada por este fato.

Em 1991/1992 surge duas equipes cariocas: Rio Forte e Botafogo. Por que da escolha do Botafogo?
Olha, eu joguei na Rio Forte no ano seguinte, mas eu não me recordo se eu tive convite da Rio Forte, mas eu lembro que o time do Botafogo era um bom time, mas o ruim que nós ficamos um período sem receber. Peguei pneumonia aquele ano. Morava lá no hotel Flórida e não foi um ano fácil não.

Você chegou a ter problemas com atrasos de salários nesta temporada?
Não recebi e também não entrei com processo. Não sei se alguma atleta entrou com algum processo. Não foi um ano fácil. Além disso, tive a pneumonia como relatei anteriormente. Foi uma pena, porque tinham excelentes atletas na equipe.
N.E.: Além de Ricarda, a equipe do Botafogo contava com as seguintes atletas: Roseli Ana Timm, Denise Ferreira de Souza, Ana Margarida Vieira Álvares (Ida), Ellen Cristina Miranda da Costa, Aline de Oliveira Gomes, Regina Vilella Brito Rangel, Maria Patrícia Marques Santos, Ingrid de Oliveira Gomes, Maria Fernanda Mascigrande (Fefê), Cristina, Mayra Pedro, Miriam Solange Scharzock (Miquinha) e Karla Ribeiro.

Em 1991 após alguns cortes na seleção como da Fátima e da Denise, você foi convocada para a seleção brasileira com o Wadson como técnico para os Jogos Pan Americanos de Havana. Você ficou surpresa com a convocação?
Como eu te falei, a atleta sempre treina e se esforça para ter uma oportunidade. Eu lembro que quando ele me chamou, eu estava fora de forma; não estava bem, não estava treinando e já estava sentindo uma dorzinha no meu ombro, mas foi uma honra ter podido participar do Pan-Americano.

Qual foi sua impressão sobre a cidade de Havana? Você chegou a ver o Fidel Castro na época?
Eu vi o Fidel no estádio e acho que foi  no dia que o Robson Caetano fez uma final, 200 metros no estádio de Havana, mas no vôlei ele não foi. Nós fizemos a final com Cuba, e ele foi na final do basquete, que o Brasil ganhou da seleção cubana e ele que entregou lá a premiação para a Hortência e para a Paula Nós ficávamos muito na vila Pan-Americana e foi muito bacana lá, pois tinha muita manga. Eu lembro que tinha um mercadinho fechado só para os atletas e os cubanos ficavam lá no portão pedindo para nós comprarmos as coisas para eles. Havana naquela época já se percebia uma depreciação nos carros, nos prédios. Havana assim como Cuba no geral, infelizmente sofreu com o embargo e o povo sofria bastante e sentíamos que eles vêem o esporte e a cultura como uma oportunidade de sair e ter uma condição de vida melhor; de dar uma condição de vida melhor para sua família lá.

Que recordações você tem da Vila Pan-Americana?
Ah, era bem legal. Tinham vários prédios com os países que estavam participando. Eu lembro que na época eu consegui trocar um agasalho com uma atleta canadense. Me recordo do bichinho de pelúcia, o refeitório e ver aqueles grande atletas, como a própria delegação brasileira, como as meninas do basquete que estavam em um prédio próximo. Eu ficava muito concentrada nos jogos, nos treinos e passava muito rápido. Nós participamos do desfile de abertura e foi muito legal. Estavam a Tina, Cilene, Ana Moser, Fofão. Devo ter tirado umas fotos com elas. Foi bacana! Foi uma boa experiência!
N.E.: O Brasil participou dos Jogos Pan-Americanos de Havana com o seguinte elenco: Ricarda, Kerly Cristiane Paiva dos Santos, Ana Beatriz Moser, Adriana Ramos Samuel, Ana Margarida Vieira Alvares (Ida), Cristina Pacheco Lopes (Tina), Ana Maria Volponi de Freitas, Cilene Falleiro Rocha, Silvana Khul da Silva Paciti, Ana Flávia Chritaro Daniel Sanglard, Fernanda Porto Venturini e Hélia Rogério de Souza (Fofão).

Na fase de classificação o Brasil perdeu para o Peru. O que você acha que foi determinante para o Brasil ganhar das rivais na semifinal?
Maior ritmo de jogo e como consequência mais confiança e assim acho que o jogo foi entrando.

A final foi contra Cuba, o Brasil ganhou o primeiro set e o jogo não foi tão mole para Cuba como em confrontos anteriores. As cubanas já eram afrontosas nesta época?
Sim. Elas provocavam sim, vibravam e ainda mais na final em um jogo muito quente, mas não como em 1996 que a Ana Moser pediu respeito. Porém, elas já tinham isto e já era característica de serem muito aguerridas. E isto foi só no jogo, pois  fora do jogo era amigável, pois me lembro que levamos jeans para elas e a Fu levou aplique de cabelo para as cubanas.

O vice-campeonato foi uma surpresa para a equipe ou estava nos planos?
Você está no campeonato para ir para a final e lutar para conquistar o título sempre. Me recordo que em todos os campeonatos que eu entrei sempre foi com esse objetivo.

Após este torneio, você ficou de fora dos demais torneios da temporada. Você chegou a treinar e ser cortada ou nem foi chamada mais pelo Wadson? Isto a chateou?
Ele não me chamou mais depois do Pan-Americano e não fiquei chateada. Não estava bem, o meu ombro já não estava bem no Pan-Americano. Então foi bem tranquilo, eu não sofri com isso e já fui para a próxima. Em relação a convocação, não convocação, eu nunca sofri. Eu sempre tinha outro objetivo, que era ir para meu clube e jogar nele.

A Liga Italiana estava acolhendo muitas atletas brasileiras neste período. Você chegou a receber propostas ou teve vontade de ir para lá?
Não recebi e também não tinha interesse em ir.

Conte-nos como foi sua passagem pela Rio Forte na temporada 1992/1993.
Olha, eu joguei na Rio Forte no ano seguinte e o time era bom, bem montado, gostei bastante. Era o Marcão o técnico e tinha o Tabach e o Zé Inácio preparador físico, se eu não me engano. Foi muito bom aquele ano, pois eu acho que eu consegui crescer como atleta, ganhar mais experiência.
N.E.: Na Rio Forte, Ricarda atuou ao lado das seguintes atletas: Eliana Ferreira dos Santos (Bobô), Sandra Maria Lima Suruagy, Rosana Aparecida de Souza, Janina Déia Chagas da Conceição, Débora Cristina Soares de M. Faria, Patrícia Sant’Ana Borges, Sandra Pires, Andréa Leopoldina Aparecida de Moraes, Simone Storm, Renata Pinto Dia, Heloísa Helena Santos Roese, Márcia Regina Cunha (Fu), Marcela Soares da Cunha G. Almeida, Juliana Nogueira Guimarães, Mariana Cabral e a peruana Rosa Gisella Garcia

Em 1993/1994 você foi para a equipe do Leite Moça. Como surgiu o convite para ir para a equipe?
O convite aconteceu como todos os outros: o técnico me ligou e eu queria permanecer no Rio, mas meu pai meio que me obrigou a ir para São Paulo, ir para Sorocaba e foi uma boa escolha. Então isto mostra a importância de ouvir os pais!

Nesta primeira temporada, a equipe foi campeã paulista, porém ficou de fora da final da Liga Nacional 1993/1994. O que você acha que faltou para a equipe ser campeã naquela temporada, já que era uma das potências no período?
É, realmente era uma grande equipe. Tinha Cilene e a Tina na equipe também. Olha o porquê de não ter chego a final, buscar os motivos do porquê nos leva a vermos a outra equipe também, o adversário era uma grande equipe e era um trabalho que estava se iniciando. Foi a primeira temporada de um grande trabalho e eu acho que pode ter sido algum detalhe, porque o play off semifinal foi bem disputado.
N.E.: Segundo informações dos arquivos da Folha de São Paulo, o Leite Moça perdeu o play off semifinal para a Nossa Caixa/Recra de Ribeirão Preto que foi campeã e o técnico Sérgio Ricardo Negrão teve o desfalque de Ana Beatriz Moser e da norte-americana Caren Kemner (ambas com tendinite no ombro) na primeira partida. As demais atletas que jogaram com Ricarda esta temporada foram: Gisele Cristina Florentino, Cristina Pacheco Lopes (Tina), a outra norte-americana Paula Jo Weishoff, Josiane Grunewald, Cilene Fallero Rocha, Silvana Kühl, Simone Storm, Marisa Bianchi, Kerly Cristine Paiva dos Santos e Karin Rodrigues Negrão.

Em 1994/1995 você fez parte da equipe que foi campeã Mundial Interclubes. Você chegou a atuar naquele campeonato? Qual foi a sensação de ser campeã mundial?
Eu joguei todos os jogos, estava de oposta da Fernanda e foi ótimo, pois meu ombro estava bom. Foi um bom campeonato.
N.E.: Além de Fernanda Porto Venturini, foram campeãs mundiais com Ricarda: Ana Beatriz Moser, Kerly Cristine Paiva dos Santos, Denise Ferreira Souza, Ana Paula Mendes Rodrigues, a norte-americana Kimberly Oden, Cristina Pacheco Lopes (Tina), Ana Cláudia da Silva Ramos (Cecé), Karin Rodrigues Negrão, Josiane Grunewald, Simone Storm, Dirce Aparecida Ferraresso Lara, Janaína Anjos Miranda e Ana Margarida Vieira Álvares (Ida), que foi contratada para atuar somente no Mundial de Clubes

Ao fim desta temporada, o Bernardinho a convocou para a seleção brasileira. Você ficou surpresa com a convocação?
Sim, Cleverson. Estava muito jovem ainda, 24, 25 anos. Eu havia feito uma boa temporada, jogando com Fernanda (jogava na saída, passando), não tinha ainda líbero e foi muito bom.

No primeiro torneio da temporada, o Brasil reencontra Cuba após aquela derrota do Mundial do Ibirapuera na BCV Cup e vence por 3×0. Você se recorda daquela partida? Qual foi a reação das cubanas pela derrota?
Nossa, eu lembro de Montreux e foi massa, eu lembro que eu fiz um jogo muito bom, que até me chamaram para fazer doping. Foi muito legal aquele campeonato e as cubanas sempre foi a rivalidade mesmo; uma coisa que era natural dentro de quadra.
N.E.: O Brasil ganhou o torneio de Montreux derrotando Cuba na final por 3×0, com parciais de 15-3, 15-8 e 15-7. A equipe do Brasil contava com Ricarda, Ana Flavia Chritaro Daniel Sanglard, Marcia Regina Cunha (Fu), Fernanda Porto Venturini, Estefania de Souza, Ana Margarida Vieira Álvares (Ida), Hilma Aparecida Caldeira, Ana Paula Conelly, Hélia Rogério de Souza (Fofão), Denise Ferreira de Souza, Sandra Maria Lima Suruagy e Leila Gomes Barros.

Após este torneio, o Brasil parte para a Ásia para o cansativo Grand Prix. Você sentiu dificuldades de lidar com os deslocamentos durante o torneio? É verdade mesmo que vocês viam muitas comidas exóticas por lá? Que tipo de alimentos vocês levavam para não ter que encarar aquelas iguarias?
Sem problema nenhum. Jovem, com vigor, querendo estar na seleção e se precisasse viajávamos o ano todo! E olha que íamos de classe econômica com as pernas dormindo no corredor, dormindo no chão e era muito bom. Sobre a questão da comida, nós levávamos miojo, biscoito, lata de feijoada e a sorte é que a grande maioria dos lugares tinham fast food e alguns hotéis eram bons com restaurantes internacionais. Então não tem o que reclamar!

A Fernanda em uma de suas lives durante o isolamento social, comentou que durante estes deslocamentos, o Bernardinho chegou a treinar com vocês nas paradas em aeroportos. Você se recorda disto?
Sim, nós treinávamos no estacionamento de aeroporto e de hotel. E isto ajudava mesmo, porque as viagens eram longas e as pernas começavam a inchar, pois ficava-se muito tempo com elas para baixo. Então era importante fazer isso!

Neste Grand Prix você teve uma atuação de destaque diante de equipes asiáticas. Você se recorda destes jogos?
Sim, principalmente contra o Japão. Estávamos perdendo por duas vezes, se eu não me engano, eu entrava e junto com a equipe o jogo encaixava e acho até que o Bernadinho gostava, pois eu lembro dele fazer um comentário que dava certo a minha entrada contra o time do Japão.

O Brasil venceu China e Cuba, porém perdeu a partida contra as norte-americanas e ficou com o vice-campeonato. O que você acha que faltou ao Brasil para conquistar aquela vitória e o título?
Ah, acredito que errar menos do que as americanas, pois elas são muito constantes e acho que foi no detalhe mesmo, de acreditar e errar menos. Elas marcavam muito bem a nossa equipe.
N.E.: Participaram deste Grand Prix com Ricarda: Ana Beatriz Moser, Ana Margarida Vieira Alvares (Ida), Leila Gomes Barros, Hilma Aparecida Caldeira, Marcia Regina Cunha (Fu), Ana Flavia Chrirato Daniel Sanglard, Fernanda Porto Venturini, Hélia Rogério de Souza (Fofão), Denise Ferreira de Souza, Sandra Maria Lima Suruagy e Ângela Stella de Moraes.

Após o torneio o Brasil disputou o Sul Americano em Porto Alegre e reconquistou o torneio diante das peruanas. Você se recorda do título?
Voltando do GP, Bernardinho deu uma semana de folga e me convocou para o Sul-Americano, só que aí eu pedi dispensa, porque eu não estava bem do meu ombro; não conseguia nem levantar meu braço e ele até tinha cortado outras jogadoras. Ele me disse: “Mas por que você não me avisou antes?” e eu disse a ele que não sabia que meu ombro estava tão ruim assim, porque fiquei de folga e quando eu cheguei para treinar não conseguia levantar o ombro.
N.E.: Ricarda acabou ficando com o grupo, mas devido a lesão não pode ser utilizada. As outras atletas que jogaram este torneio foram: Ana Flávia Chritaro Daniel Sanglard, Fernanda Porto Venturini, Marcia Regina Cunha (Fu), Denise Ferreira de Souza, Virna Cristine Dantas Dias, Ana Paula Conelly, Ana Margarida Vieira Álvares, Leila Gomes Barros, Ana Beatriz Moser, Janina Déia da Conceição Chagas e Hélia Rogério de Souza (Fofão).
A jogadora cortada por Bernardinho citada por Ricarda é Hilma, que segundo arquivos da Folha de São Paulo apresentava uma canelite e para seu lugar foi convocada Denise.

O Bernardinho chegou a convocá-la para a preparação para Atlanta?
Não, essa época eu tinha acabado de fazer a minha primeira cirurgia. O meu ombro estava ruim e tive que fazer a cirurgia.

No Sul Americano de Clubes de 1996, você foi campeã, sendo emprestada para o Sollo/Tietê juntamente com a Josiane, já que a Virna e a Sandra estavam com a seleção. Conte-nos como foi sua rápida passagem por lá?
O Sul Americano foi ótimo! Fomos emprestadas e tive oportunidade de estar com um grupo diferente, um grupo maravilhoso, com meninas ótimas e uma outra comissão técnica. Eu ainda estava atuando como atacante e joguei este torneio atacando e pude ajudar o time e para mim isto foi o mais importante!
N.E: Josiane e Ricarda se juntaram as seguintes atletas na equipe doo Sollo/Tietê: Denise de Paula Nicolini, Ângela Stella de Moraes, Maria Estela Júnior, Andréa Leopoldina Aparecida de Moraes, Shily Lopes Galvão, Ana Beatriz das Chagas (Bia), Fátima Aparecida Cássia dos Santos, Juliana Leite da Silva, Hélena Shincariol Vercelino e Andréia dos Santos Teixeira.
A equipe venceu a final contra a Transmontano/J.C.Amaral Recra (que contava com Vera Mossa e Lica) por 3×2.

No Paulista de 1996 você e a Simone Perereca acabaram de fora do torneio devido lesões. Você tinha algum problema crônica na época?
Sim, eu já tinha feito uma cirurgia no ombro (uma cromioplastia) depois que eu tinha pedido dispensa em 1995. Voltei para o clube, tentei recuperar, mas precisei fazer uma outra cirurgia também. Aí foi uma saga: de operar, leva seis meses para recuperar, entrar em forma, começar a atacar, correr para tentar jogar e não foi fácil.

Na final da Superliga 1996/1997 você acabou sendo uma pseudo-líbero, devido sua lesão no ombro, você assumiu a vaga da Silvana Kuhl, porém não podia atacar muito. Como você soube lidar com aquela situação?
Realmente não foi um período fácil, porque você sendo uma atacante sofrendo com uma lesão destas e posso dizer que eu fui meio que uma cobaia na época, pois não havia muitas atletas de voleibol operando o ombro. Mas eu estava na equipe me esforçava bastante para estar bem, estar em forma e o que eu pudesse fazer para contribuir com o time estava ali. Eu queria jogar!

Em 1997 o Bernardinho a convocou para o Sul Americano. Por qual motivo você não aceitou a convocação?
Em 1997, eu estava jogando o Campeonato Paulista e ganhamos do Dayvit (se não me engano) em uma partida que eu estava jogando bem. O Bernadinho estava assistindo e me convocou. Aí eu fui até ele e pedi dispensa. Ele achou que a Nestlé não queria me liberar e eu falei a ele: “Bernardo, meu ombro não está normal, pois quando ataco, eu sinto meu ombro meio instável, sinto ele diferente”. Então desta vez eu já pedi dispensa, diferente de 1995 em Porto Alegre.
Bernardo ainda questionou que me viu atacando e jogando bem, mas eu disse a ele que meu ombro não estava legal, porém eu queria muita estar na seleção de 1997.

Nas quartas de final do Paulista, durante uma partida contra o Davene Paulistano, você teve uma lesão gravíssima. Todas as lesões sofridas neste período foram no mesmo ombro?
Sim, no membro ombro e jogando esta partida eu fui atacar uma bola tirando do bloqueio e meu ombro luxou; ele saiu do lugar pela primeira vez. Com a lesão eu pensei: já operei duas vezes e agora? Vou buscar o melhor médico em ombro do mundo e fui para Nova York, fui operar com o Dr. Bigliani no Hospital Metropolitan e acabei ficando quase um mês lá, para fazer a recuperação. Inclusive um médico brasileiro foi comigo, o Dr. Sérgio Xavier acompanhou a cirurgia. Não foi fácil!

Você achou que foi merecido o título do Rexona frente a vocês na temporada 1997/1998?
Bom, eu acho que aquele título se resume à Fernanda Venturini. Ela saiu e foi para o Rexona e isso faz toda a diferença. Ela tinha saído. E acho que também as lesões no time, tinham algumas lesionadas, mas a Fernanda realmente desequilibrava!
N.E.: Neste torneio em que foram vice-campeãs diante do Rexona, as companheiras de Ricarda na equipe foram: Tara Cross-Battle (EUA), Denise Ferreira de Souza, Andréia Luciana Marras, Virna Cristine Dantas Dias, Danielle Racquel Scott (EUA), Karin Rodrigues, Maria Estela Júnior, Mariângela Alves Sabino, Tatiana Vieira Rodrigues, Josiane Grunewald, Miriam Jacinta Volkweis, Simone Erhardt Domingos Fagundes (Perereca) e Fernanda Lemos Brino.

Em 1998, você migra para a posição de líbero. Foi devido a lesão no ombro?
É, foi uma adaptação necessária. Só vislumbrar a oportunidade de continuar jogando, já foi muito bom; diante de uma situação que era isso ou parar de jogar. Então, eu me empenhei, me dediquei e coloquei como meta fazer bem essa nova função e ao final da temporada 1998/1999 eu recebi o prêmio de melhor passe. A partir daí, eu comecei a ter prêmios individuais e foi um foco pra continuar jogando. E acredito sim que se não fossem as lesões, se tivesse vindo sem cirurgia, eu acho que muita coisa teria sido diferente. Ter vígor físico para poder atacar ia ser muito bom!

Você era oposto, mas era uma atacante de bolas mais rápidas. Você acha que se fosse no voleibol atual, você conseguiria atuar como oposto?
Acho que não. Hoje o oposto é muito força e na minha época eu nunca tive uma característica de muita força. Só quando mesmo o ombro estava bom, como foi quando era atacante de ponta e até mesmo oposto.

Na temporada 1998/1999, o Leites Nestlé não fez uma boa fase de classificação ficando apenas em 6° lugar e acabou caindo nas semifinais para o Rexona. O que aconteceu para a equipe não ter ido bem naquela temporada?
Acredito que o time foi modificado bastante e a saída da Fernanda é algo que realmente fez a diferença e também tiveram várias situações de lesões nesse período. Quebra o trabalho do técnico.
N.E.: Da temporada 1997/1998 deixaram a equipe do Leites: Virna Cristine Dantas Dias, Danielle Racquel Scott (EUA), Mariângela Alves Sabino, Miriam Jacinta Volkweis e Fernanda Lemos Brino. Se incorporam a equipe: Elena Vasilyevna Chebukina (Croácia), Leila Gomes de Barros, Paula Renata Marques Pequeno, Shily Lopes Galvão, Leslie Pinheiro da Silva, Fernanda Vivancos Miranda e Flávia Tomelin

Como foi receber a notícia do fim do projeto dos Leites Nestlé?
Eu lembro na época que quando saiu o comunicado da empresa todos ficaram muito tristes. Senão me engano mudou a presidência de marketing da empresa aqui no Brasil e ele não tinha essa afinidade com o vôlei e encerrou o projeto da gestão anterior e tiraram o patrocínio e foi uma pena, mas depois a Nestlé voltou em Osasco, o que foi muito bacana!

Das 6 temporadas no Leites Nestlé, você saberia citar um jogo e um título que você considera que tenha sido mais marcante a você?
Final do mundial foi um marco positivo, como também as finais de Superliga e de negativo, infelizmente os dois momentos em que luxei o ombro.

Em 1999 o Bernardinho a traz de volta para a seleção para a posição de líbero. Como foi voltar em uma nova posição?
Assim que acabou a Superliga, onde eu ganhei o prêmio de melhor recepção, eu estava na expectativa, mas ele não me chamou. Primeiro ele tentou com a Ana Flávia em Montreux e acho que não deu certo e eu entrei de férias. Depois o Bernardo me ligou e perguntou como eu estava e eu falei que estava parada. Então ele falou para eu ir para Curitiba e treinar um mês. Eu treinei um mês, enquanto as demais atletas foram para o Pan e eu fiquei muito feliz. Eu me recordo que quando eu treinava sozinha, eu me preparei muito e estava animada querendo agarrar essa oportunidade também. Eu ralei muito, queria muito ir bem no Grand Prix, para ficar na Copa do Mundo, assim como Olimpíada no ano seguinte. E um fato interessante era que mesmo depois de três cirurgias no ombro e ainda jogando como líbero, ele ainda luxava.

Naquele GP, o Brasil fez uma excelente campanha, porém perdeu a final para as russas facilmente. Por que o Brasil encontrava tantas dificuldades para vence-las no período?
Eu fui para o Grand Prix e fui a melhor líbero do torneio e foi bem legal! Se eu não me engano foi a primeira vez da regra oficial valendo para líberos e durante as fases eu ganhei o prêmio de melhor líbero também. Sobre a Rússia era uma excelente equipe, fantástica! Gamova, Sokolova, Artamanova, Tishchenko e isto fazia a diferença!
NE.: O Brasil perdeu a final para a Rússia por 3×0 com parciais de 25-23, 25-22 e 25-20. A equipe era formada por Hélia Rogério de Souza (Fofão), Virna Cristine Dantas Dias, Ana Beatriz Moser, Leila Gomes Barros, Janina Déia da Conceição Chagas, Karin Rodrigues, Ricarda,, Carolina Dermatini Albuquerque, Tatiana Vieira Rodrigues, Walewska Moreira Oliveira, Raquel Pelucci Xavier da Silva e Elisângela Almeida de Oliveira.

Na Copa do Mundo o Brasil se classificou para os Jogos Olímpicos de Sidney. Você sentia que sua chance de disputar uma Olímpiada era real?
Não, eu sabia que de alguma forma eu teria que treinar muito, que eu teria uma Superliga pela frente, que eu teria que jogar bem e que também teria uma outra convocação e os brilhos dos troféus passados não garantem resultado, sucesso. Você necessita trabalhar tudo de novo para tentar buscar, se sacrificar, dedicar, para que as coisas aconteçam. Eu e a Andréa Teixeira tivemos uma disputa sadia para a Copa do Mundo o que foi muito legal, pois isso faz que com crescemos com a pessoa que você está disputando vaga com você.
N.E.: Para a Copa do Mundo houveram três mudanças na equipe brasileira: saíram Tatiana, Carolina e Raquel para a entrada de Ângela Stella de Moraes, Gisele Cristina Florentino e Érika Kelly Pereira Coimbra.

Quais motivos te levaram a escolher o BCN na temporada vindoura?
Foi um convite de uma outra grande equipe que eu recebi e não havia muitas opções, pois as equipes já tinham seus líberos.

Como foi a disputa com a Sandra Lima para os Jogos Olímpicos de Sidney?
Bom, a disputa foi em alto nível. A Sandra é uma excelente atleta, já tinha jogado três Olimpíadas e era muito experiente. Para mim foi muito bom, pois eu cresci bastante e aprendi muito também. Nesse período eu não poderia fazer a mesma coisa, eu tinha que fazer além do que era dado para nós duas. Treinava demais e sempre ficava depois do treino para fazer um pouco mais e tive o apoio das meninas que foi muito importante pra mim. Foi muito bacana, pois a disputa foi na quadra, nos jogos.

Vocês foram para os jogos cientes que eram terceira força ou acreditavam que poderiam algo a mais?
Olha, o todo tempo você vai para ganhar o campeonato e sempre foi essa nossa postura. O pensamento e o trabalho com esse foco e não tinha outro pensamento diferente disso. No GP terminamos em terceiro, perdemos a semifinal e não jogamos bem; poderíamos ter jogado melhor. Eu acho que não dá para um atleta pensar numa preparação para um campeonato importante pensar em ficar em terceiro ou chegar só à semifinais. Tem que pensar que fará de tudo para ir além.

Na semifinal contra Cuba, o Brasil esteve a frente de Cuba com uma ampla vantagem nos segundos e quartos sets, porém acabou sendo derrotado no tie break. Algum motivo poderia explicar o que fez o Brasil travar naqueles momentos?
Esse momento ficou na nossa memória. Como no esporte você tem que tomar decisões estratégicas de forma rápida e mudar uma estratégia de jogo para reverter uma situação e eu lembro (posso estar enganada) que foi quando a Aguero estava sacando e ali realmente a gente podia ter mudado o rodízio para subir uma e descer a outra para sair daquela situação marcada pelas cubanas e acho que faltou isso. Não tem nenhum culpado. Faltou a gente como um time, naquele momento, naquele calor, fazer essa alteração. Mas foi uma semifinal 3 a 2, contra um time tricampeão olímpico e o time do Brasil não era favoritos e nem era aquele time de craques; era um time de pessoas muito esforçadas, com garra, muita união, trabalho e muito suor.

Nesta Olimpíada, diferente de edições anteriores, a disputa do bronze era um dia após a semifinal. Como a equipe conseguiu superar a derrota em pouco tempo para conseguir a medalha?
Depois do jogo contra Cuba, já tinha que deixar para trás e já focar no próximo jogo. Não dava para ficar se lamentando. Então teve treino, teve edição e o foco era a medalha de bronze. Estudamos a equipe, fizemos um treino de ajuste e fomos com tudo para conquistar a medalha, pois não valoriza o bronze quem nunca ganhou um, pois é uma medalha olímpica e quantos não queriam estar ali apenas para disputar e para subir no pódio e de ter uma medalha e levar isso para o resto da vida. Eu me recordo do meu pai que já estava sofrendo com câncer e já estava se tratando, fazendo quimioterapia e ele não pode ir e no final da partida um radialista de Goiânia (meu pai morava em Goiânia) me chamou e disse: “Ricarda, eu sou de Goiânia, de tal rádio e eu estou com seu pai aqui no telefone”. Nossa! Eu nem acreditei e foi maravilhoso, pois todos meus troféus e minhas medalhas ficavam na casa de meu pai em um quartinho. E meu pai me falou: “Traz a minha medalha aqui em casa” e aí eu levei. Quando voltei, fui a Goiânia dei a medalha e ele ficou com ela até 2002, quando faleceu.
N.E.: O Brasil foi medalhas de bronze em Sidney com Ricarda e as seguintes atletas: Hélia Rogério Souza (Fofão), Waleswska Moreira Araújo, Janina Déia Conceição das Chagas, Érika Kelly Pereira Coimbra, Leila Gomes Barros, Virna Cristine Dantas Dias, Kátia Andréa Caldeira Lopes, Karin Rodrigues, Kelly Kolasco Fraga, Elisângela Almeida de Oliveira e Raquel Pelucci Xavier da Silva.

Além da medalha de bronze, você ganhou o prêmio de melhor defesa do torneio. Como funciona estas premiações em Jogos Olímpicos? Vocês chegam a ganhar um certificado ou algo do tipo?
Na Olimpíada não, lá ficava só o registro nas estatísticas. Só aqui no Brasil mesmo que o Ari fez um jantar ou almoço (não me recordo) com os medalhistas.

Em 2001, o Marco Aurélio Motta assume a equipe e o Brasil não conseguiu fazer uma boa temporada. Houve problemas internos na equipe?
Nossa! Foi realmente um ano muito ruim, não foi legal e eu acho que não tem culpados. Acredito que não deu liga, tem questão de motivação e de afinidades. Uma pena que não deu certo.

No fim da temporada você pediu dispensa da equipe e Marco Aurélio diz na mídia que não, que você foi cortada. Vocês chegaram a ter algum desentendimento na época?
Olha Cleverson, eu falo para você que eu já estava em outra vibe e o que as pessoas falaram na época eu não me importei. Depois de tudo que eu já tinha passado, ter ido para a Olimpíada, eu já estava realizada. Eu não tenho nenhum sentimento em relação ao que eu passei nesses último anos como jogadora e falo do fundo do meu coração que eu nem lembro dessa reportagem e sinceramente isso pra mim não teve nenhum peso, porque já estava realizada e já estava em outra vibe, pois meu pai estava bem doente nessa época e então o que acontecia nas quadras, em time, vôlei, imprensa, isso não me afetava, porque tinha coisa mais importante.

Em 2001/2002, o BCN estava com o título praticamente na mão após vencer o MRV/Minas na primeira partida e estar vencendo a segunda por 2×0, porém perdeu o título para a rivais. O que aconteceu a com a equipe para levar esta virada?
Eu não lembro, pois estava ainda vivendo esta situação do meu pai. Se for falar para você pela experiência é que o jogo em um campeonato nunca está ganho, ainda mais em uma final em que são duas equipes que passaram por todo uma temporada lutando, crescendo, se desenvolvendo para estar ali e se você não se entrega 100% e se não há uma unidade, então acredito que deva ter faltado isto.
N.E.: Ricarda foi vice-campeã da Superliga nesta temporada tendo como colegas de equipe: Janina Déia Chagas da Conceição, Paula Renata Marques Pequeno, Virna Cristine Dantas Dias, Carolina Dermatini Albuquerque, Marcelle Mendes Rodrigues, Valeska dos Santos Menezes, Arlene de Queiróz Xavier, Jaqueline Maria Pereira de Carvalho, Ana Paula Lopes Ferreira (Fofinha), Renata Colombo
Roseli Martins de Melo, Patrícia de Oliveira Cocco, Marianne Steinbrecher, Flávia Fernanda de Lima e Veridiana Mostaço da Fonseca.

Como foi voltar atuar em Brasília na temporada 2003/2004, depois de 17 anos?
Foi muito legal! Eu estava com Danilo com 8 meses. Me ligaram fazendo o convite e como tinha minha família toda em Brasília; que eu poderia ter a tranquilidade de deixar o Danilo com minha mãe, eu decidir ir.
Foi muito bom, porque entrei em forma com o preparador físico que era muito bom e as meninas eram ótimas: a levantadora Fabiana Berto, que eu gosto demais, a Lali, argentina e a Leila. Nós chegamos e ficamos só seis meses, não nos preparamos a temporada toda. Foi ótimo, pois me diverti com o ginásio cheio e fizemos bons jogos…
N.E.: Na equipe do Brasil Telecom/Força Olímpica, Ricarda teve a companhia das seguintes atletas: Michely Silva Fernandes, Edilma Costa da Conceição, Sílvia Cristina Andrade de Oliveira, Daniela Lanner Mapeli, Rossana Barroso de Souza, Gisele Gomes dos Santos, Thiara Batista Bruxel, Maria Isabel Tavares, Sabrina Duarte de Almeida, Leila Gomes Barros, Priscila Rodrigues, Fabiana Berto, Diuvane Belletti, Ana Paula Silva Santos e a argentina Maria Laura Vicente (Lala).

Você e a Leila eram umas das líderes da equipe. Como foi lidar com esta responsabilidade?
Pela experiência tentar ajudar a equipe e as meninas. Eu acho que é natural em todas as equipes, quando tem atletas mais experientes você poder ajudar e contribuir para que as outras pudessem se desenvolver e crescer. Nós estávamos ali para realmente contribuir e ajudar.

O Zé Roberto chegou a te consultar para uma possível convocação para Atenas 2004?
Não, havia já outras líderes. Eu já estava em outra vibe e não estava com esses planos. Eu estava com o Danilo pequeno, ganhava um dinheirinho com o clube, mas não tinha pretensão de pensar em qualquer coisa parecida em seleção.  Já não era mais um sonho e não tinha mais isso dentro de mim.

Por que a escolha do Rexona, agora no Rio de Janeiro, para encerrar a carreira?
Bernadinho e Fernanda. Eu decidir jogar mais uma temporada, ele me convidou e topei e foi bem legal. Chegamos na final, mas de qualquer forma não acho que eu joguei bem, que atendi as expectativas. A gente sabe que tá na hora de parar, mas ainda quer continuar, sabe aquele sentimento. Eu vi que o mercado estava difícil também e resolvi voltar para Brasília e começar um projeto social nos moldes que tinha em Osasco e em Curitiba com o Rexona.

O que você acha que aconteceu para que o Rexona não conseguisse fazer frente ao BCN naquele play off final?
Não consigo lembrar algo específico. Não deu certo, não jogamos bem, elas jogaram bem. Lembro que a última partida foi um domingo de amanhã em Niterói e na noite anterior que eu voltei para casa depois do treino, o Danilo não estava bem, estava doentinho e no outro dia cedinho precisei jogar. E realmente não deu nada certo aquele dia.

Você encerrou a carreira satisfeita ou você acha que faltou algo?
Olha, contando com a Olimpíada e a medalha sem dúvidas fiquei satisfeita, ainda mais depois de tudo que aconteceu, com as lesões e as cirurgias. Posso dizer que Deus é maravilhoso, pois depois de tanta luta eu continuei acreditando, mas se eu pudesse voltar, eu não teria feito nem a primeira cirurgia no ombro.

Quando você encerrou a carreira com que você foi trabalhar?.
Eu comecei a fazer um projeto social e foi quando a Laboritec aqui na Asa Sul, em Brasília, ia ser inaugurada e iriam implantar a escolinha nas academias em Brasília e tive a oportunidade de poder contribuir, mas não fiquei muito tempo. Continuei em outros projetos sociais e inaugurei em 2009 a primeira Vila Olímpica em Brasília e em 2010 fui convidado para ir para a Secretaria como coordenadora e inaugurar todas as outras Vilas olímpicas, além de coordená-las. Me formei em bacharel em administração de empresas, com especialização em gestão.

Em 2013 após Brasília ficar sem equipe na Superliga por 6 temporadas, você e a Leila decidem montar um projeto que existe até hoje. Conte-nos como surgiu esta idéia.
Bom, a gente já fazia desde 2005 um projeto social, mas eu e a Leila sempre converávamos na possibilidade de montar um time e foi assim que aconteceu. Quando ela veio para Brasília, com o patrocínio do BRB e da Terracap, montamos a equipe do Brasília Vôlei. No início, era pra ser um time masculino, porque teoricamente daria pra montar um time mais competitivo com um recurso menor e convidamos o Sérgio Negrão para fazer o projeto com a gente (primeiro como técnico e depois como gerente) e ele comentou que a Paula toparia vir para o Brasília, a Érica, a Elisângela. Só a possibilidade da Paula, bicampeã olímpica poder participar do time foi fantástico e para gente foi muito bom.

Atualmente você é chefe de gabinete da senadora Leila Gomes de Barros, a Leila do vôlei. Como está sendo este desafio?
Bom, já trabalhamos juntas há muitos anos e sempre conversamos nessa possibilidade de ela voltar para Brasília. Primeiro fizemos alguns projetos, montamos o time de Brasília e pensávamos de que forma poderíamos contribuir mais para cidade e em 2014 ela decidiu concorrer como candidata a deputada distrital e eu coordenei a campanha dela e foi muito rápido, sem recurso e ela ficou como a primeira suplente e foi aí que recebi o convite pra ir para a secretaria. Em 2018 o projeto inicial era concorrer novamente a deputada distrital, mas o partido diante de pesquisas realizadas, optou em ela concorrer ao Senado e novamente coordenei a campanha dela e graças a Deus ela teve êxito. É uma honra poder representar a cidade neste trabalho como chefe de gabinete, ainda mais que é a parte administrativa, que é a minha área (gestão do gabinete), porém antes de irmos para o Senado, fiz um curso de curso de processos legislativos e daí então eu não parei de estudar e estou aprendendo demais com a equipe, que é muito boa.

Conte-nos um pouco desta sua relação de amizade com a Leila, que perdura há muitos anos.
É muito legal! Normalmente dizem que mulheres não são amigas, mas a nossa relação é uma prova de que é possível sim, o que é necessário é despir-se de qualquer vaidade, qualquer questão individual, entender que cada uma tem o seu papel, que juntas nós somos mais fortes, juntas nós vamos mais longe e tem dado certo. Estamos juntas nesta parceira desde 2004-2005 quando decidimos fazer trabalhos juntas e não paramos mais. As duas sempre trabalhando muito e com muito respeito, compartilhando os valores e é uma parceria que realmente deu certo.

Além da Leila, quem são as ex atletas que você mantém contato até hoje?
Bom com as redes sociais e o whatsapp nos encontramos. É maravilhoso! Eu estou em vários grupos, como o da Hering, onde tem a Andréa Moraes, Simone Leal, a Rô, a Estelinha; um grupo da Rio Forte onde tem a Lica, Marcelinha, Ellen, Sandra Pires, Sandra Lima; o grupo de Sidney e agora mais recentemente um grupo dos medalhistas olímpicas e do Leite Moça (Ana Moser, Fernanda, Cecé, Simone Storm, Cilene, Tina, Kerly). E fico muito feliz de poder ter contato com elas, porque foram pessoas importantes que passaram na minha vida, tive o privilégio de aprender muito com elas, cada qual com seu jeitinho. Muita gratidão ao voleibol por estas amizades!

Como está o trabalho de base no voleibol hoje no DF?
Brasília tem os CIDs (Centro de Iniciação Desportiva) há mais de 20 anos, que é um programa muito bacana da Secretaria de Educação e este permanece, tem excelentes profissionais e eu acho que é o que mais sustenta a formação de atletas no Federal. Quando iniciamos o Brasília Vôlei tinha também a categoria de base e quando saímos permaneceram. Há uma parceria com o professor de CIDs e alguns voluntários até o momento, porém não é fácil conseguir patrocínios para manter uma equipe principal e categoria de base.

Você atuou junto de grandes atletas estrangeiras durante sua carreira. Qual foi a atleta que você mais se identificou?
Eu quero citar três: Rosa Garcia, que é fantástica e foi muito bom jogar com ela na Rio Forte; Tara Cross, ponteira que era completíssima e a Danielle Scott, central, que era sensacional!

Você sabe de algum projeto de lei que a Leila ou de outro senador que esteja em votação a favor do esporte?
Quando chegamos no Senado já tinha na casa um projeto, a Lei Geral do Esporte, que cria incentivo ao esporte como o bolsa atleta e ela traz todas essas leis no intuito de criar uma lei só e aprimorá-la. Também foi apresentada ao PROESP sugestão de emendas com a possibilidade de não perdoar, mas sim do parcelamento de dívidas, das confederações junto ao COB, porque algumas Confederações estavam com impedimento de receber recurso das loterias, conforme a Lei Aguinaldo Piva.

Você acha que a pandemia do COVID prejudicou o voleibol?
Sim e já vimos no início da temporada algumas equipes anunciando a retirada do patrocínio e até o Bernadinho deu uma declaração que ele abriu mão do salário no SESC/Flamengo para que eles possam dar continuidade. Em relação ao exterior, vejo algumas atletas que saíram, pois com o dólar nessa altura que está, é outra realidade. Tivemos por parte da CBV a não convocação para treinos das seleções em 2020. É, infelizmente impactou sim, e enquanto a grande maioria não for vacinado, eu acho que ainda terá um impacto grande.

O que você acha a respeito da extinção do ranqueamento na Superliga?
Sobre o ranking, eu acho que uma análise tem que ser feita sempre em relação a cenário nacional em que se vive no momento. Quando se tem um “período de vacas gordas”, um período de bastante equipe com patrocínios, tem mercado para as atletas, eu acho que vale a pena o ranking sim. Agora, com pouco mercado, poucos patrocínios, eu acho que prejudica o atleta, pois nem todos terão time e terão que sair, sem ter a opção de escolher de ficar no seu país, caso ele queria e isso não é legal!

Você acha que no voleibol atual tem alguma atleta com características de jogo semelhantes a sua?
Na verdade, eu não acompanho muito as novas para poder comparar, ainda mais que hoje a oposto não passa, mas das novas, eu sou muito fã (não tem a ver com características semelhantes a mim) da Tandara. Eu acho que ela tem muita garra, muita determinação, gosto da postura dela em quadra e veja a Gabi como uma craque; uma jovenzinha que passa e ataca muito bem e acho ela muito constante.

De todas as atletas brasileiras que você viu jogar e atuou contra ou a favor. Qual foi a que você mais admirou?
A Márcia Fu em quadra era impressionante, pois ela fazia todas as posições. Era inteligente, corajosa e para mim foi uma das melhores jogadoras do Brasil.

Cite os três melhores técnicos com que você trabalhou.
Bernadinho, Sérgio Negrão e João Crisóstomo. Esses três para mim foram fora de série, e gostaria de incluir também o Paulo Pernambuco, aqui no DF. Os outros foram muito bons também e aprendi com todos eles para que eu pudesse crescer.

Seu filho pretende seguir a carreira esportiva?
Bom, Danilo sempre fez esporte. Nadou bastante; desde os 6 meses ele entrava na piscina, fez futsal, basquete, judô e ele se identificou bem com o judô e com 15 anos ele resolveu jogar vôlei. Começou a treinar todo dia e até mudou de escola. Ele disputou o Brasileiro infanto-juvenil, onde ele é levantador, mas a pandemia atrapalhou muito, porque em 2020 eles teriam um Nacional Escolar, que dependendo do resultado, ele poderia ir para o Mundial.
Ele é muito disciplinado, determinado e esforçado; daqueles que dá até 1000 toques na parede por dia e é muito legal poder estar ao lado dele e fazer de tudo para que ele possa se desenvolver.

Ricarda, gostaríamos de agradecer sua disponibilidade de conceder esta entrevista ao Vôlei Raiz e te pedir para você deixar uma mensagem aos leitores do Blog e todos aqueles que puderam acompanhar um pouco de sua carreira.
Em relação ao Blog, eu quero expressar toda a gratidão pelo carinho e foi um processo muito interessante, pois fazia muito tempo que eu não tinha essas lembranças e tive que puxar muita coisa da memória. Eu quero te agradecer por isso, foi muito especial e agradecer sua paciência também. Eu recebo mensagens de carinho e as lembranças boas da época que jogava, sou muito grata a todas essas pessoas que amam o nosso esporte e que acompanharam não só minha carreira, mas também de todas asdemais atletas.

2 comentários em “ENTREVISTA RICARDA LIMA

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